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Mostrando postagens de janeiro, 2016

O relógio.

   Estava parado quando a conheci. Daqui do alto, nesse lugar sagrado, observava de longe  aquela  pressa que a movia, mas  nã o  a deixava sair do lugar.      Ainda pequena, ouviu dizer do mundo que tinha de correr. Nã o  sabia pra onde e nunca parou para escutar. Passou a vida toda indo, poucas vezes foi. Ansiava tanto pelas chegadas que raramente reparava no caminho. Desatenta, cometia sempre os mesmos erros - e corria ainda mais para fugir deles! Os ponteiros ensinaram que  o  mais importante era seguir em frente. Ela só nã o  percebia que, como eles, andava em círculos.      De tanto girar, ficou tonta. Nã o  resistiu aos vultos de suas próprias multidões. Agora era a vida que ventava sob seus olhos! Com a vista embaçada, e sem conseguir abri-los direito, foi obrigada a olhar para dentro. Há tanto tempo nã o  se via, que quase nã o  se reconheceu. Teve medo de nunca se encontrar - e quem a esperaria? Mas lá no fundo, diante da eternidade, percebeu que  o  tempo nem existia.